Trilha Salkantay – Dia 1: Montanha Salkantay, Lago Humantay e Ritual a la Pachamama
Cusco, 28 de setembro de 2015
O despertador toca. Se em casa preciso de 3 ou 4 toques para acordar, hoje eu acordo de primeira. A cabeça ainda dói muito, por causa da altitude de Cusco e do ar seco.
Pulo da cama já com a roupa pronta para a longa caminhada que começa hoje. Ontem o dia em Cusco foi incrível, mas hoje com certeza será ainda mais.
O trekking da trilha Salkantay promete!
Quer ver o primeiro vídeo da trilha Salkantay? Dá o play e se inscreve no nosso canal!
Chego no lobby do Belmond Palacio Nazarenas e sou recebido com um café da manhã para levar e comer no caminho. Aí me dou conta de verdade, ainda não são nem 6 da manhã.
Nosso grupo se divide em 2 vans. Somos 17 pessoas do Brasil, EUA, Canadá, Japão e Peru, mais 3 guias.
Em Mollepata, onde a trilha Salkantay começa, encontraremos a equipe de apoio de acampamento.
Antes de continuar a ler o relato de viagem, queria te falar uma coisa. Fizemos um post bem completo explicando onde é melhor ficar em Cusco. É um post com dicas de como escolher a melhor região para se hospedar na cidade e também indicação dos melhores hotéis de Cusco em cada categoria de hotel. Então, passa lá porque o post vai ajudar bastante a planejar a viagem ao Peru.
De van até Challacancha
O começo do deslocamento entre Cusco e Mollepata é bem tranquilo, com estradas asfaltadas e poucos zigzags. Cusco está a 3.400 metros de altitude e nosso caminho é montanha acima vagarosamente, entre subidas e descidas.
Conforme nos distanciamos de Cusco, os vilarejos vão diminuindo de tamanho gradativamente. Menos casas de alvenaria, menos crianças indo para a escola, menos carros nas ruas.
A largura e qualidade da estrada diminui na mesma proporção em que aumentam a nossa altitude e a quantidade de curvas na estrada.
Tarawasi Archaeological Site
Depois de uma hora e meia a van chega a uma parada estratégica (leia-se pipi room) para uma visita rápida ao Tarawasi Archaeological Site, perto da vila de Limatambo.
A altitude está explodindo a minha cabeça, a dor é muito grande. Sigo a risca as instruções dos guias e me mantenho hidratado. Além da água, aqui os guias nos servem um chá de folha de coca feito na hora, para ajudar na aclimatação à altitude.
Mais uma hora na estrada, dessa vez passando por pirambeiras dignas de documentários extremos, de onde consigo imaginar um deslizamento e a van indo penhasco abaixo.
Lembro na hora do planejamento de viagem para o Nepal, que eu e a Jú temos guardado, esperando pelo momento certo para ser colocado em prática.
De repente a nossa van pára. Vejo pela janela que outra van se posiciona bem encostado na montanha, para abrir passagem para nós. Passagem? Não creio que conseguiremos passar nesse espacinho entre a van e o penhasco.
O motorista acredita que sim. E eu quero acreditar nele.
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O coração bate mais forte. O japonês resolve filmar o penhasco e pela tela do celular dele eu vejo os pneus passando muito próximos do limite da pista. O coração bate mais forte ainda.
Mollepata
Mais alguns muitos zig zags beirando o abismo, chegamos a Mollepata, onde faremos um lanche rápido e separaremos nossos kits individuais de snacks para ir beliscando na caminhada pela trilha Salkantay.
Fim da linha para as vans em Challacancha. Aqui a altitude é de 3.867 metros e só veremos civilização novamente no fim do 4º dia de caminhada.
Depois de mais chá de coca, vemos as vans indo embora, o que traz um misto de sentimentos. Agora é só nossas pernas, respiração, concentração e determinação. O último resquício de civilização levanta poeira e vai embora.
Caminhada, montanha acima (e abaixo, e acima, e abaixo…)
Rodas e motor dão lugar a 3 cavalos que serão nosso transporte em caso de emergência. A próxima parada é Soraypampa, a 3.900 metros de altitude. Os guias dizem que a caminhada é de nível moderado, apenas uma preparação para o dia seguinte, o mais puxado de todos.
A inclinação da trilha Salkantay nesse trecho é significativa, com partes quase planas intercaladas. Se não fossem os trechos com pedras soltas, a caminhada seria super fácil.
O que complica é a falta de oxigênio no ar, que faz o pulmão cansar muito mais do que as pernas. A caminhada realmente está moderada como o guia falou que seria. Uma pessoa que não é totalmente sedentária consegue fazer essa parte da trilha sem problemas.
A trilha Salkantay é procurada por causa das vistas magníficas que proporciona, muito mais do que a Trilha Inca, que tem menos visual e mais ruínas. Já sabendo disso, a cada curva, imagino que a Montanha Salkantay se mostrará por trás das montanhas mais baixas.
O caminho é mais importante do que o destino
Me concentro no passo, para manter o ritmo e ajudar a respiração. Depois de alguns minutos, quase me esqueço do real sentido da trilha: o caminho é mais importante do que o destino.
E então levanto a cabeça e a vejo. A Montanha Salkantay se mostra imponente, com seu cume nevado, contrastando com a cor marrom-sem-graça das outras montanhas. A partir de então o caminho torna-se prazeroso.
“Já estamos bem perto do ponto de acampamento”. Acho estranho, pois ainda é cedo. Penso que o guia disse isso apenas para nos dar mais ânimo.
Soraypampa
Eis que uma grande reta aparece, o que faz o olho percorrer automaticamente todo o caminho e avisto o acampamento lá longe, mas ao mesmo tempo bem perto.
Um descampado entre altíssimas montanhas. Não haveria lugar melhor para esse acampamento. Chego nas barracas, já montadas pela equipe de apoio da LimaTours e PureQuest, e fico imaginando o anoitecer e o céu estrelado.
O almoço já estava pronto: sopa de quinoa, lomo saltado e suco de cevada. A sobremesa eu deixei passar. Só queria descansar um pouco.
Lago Humantay
Mas ainda é cedo, quase 4 da tarde. Havia mais uma surpresa programada, uma trilha bate-e-volta ainda hoje até o Lago Humantay, onde uma cerimônia irá acontecer ao pôr do sol. Antes de sair, mais chá de coca.
Deixo o peso desnecessário na barraca e sigo o novo guia, que se juntou a nós agora. Ele é Quéchua, a etnia original da região andina.
Toca a flauta típica para chamar seu cachorro e começa a caminhar pela trilha. Essa parte é mais puxada, mas o som da flauta ameniza a falta de ar e dá mais forças para continuar.
Ele veste um chinelo super rústico, um poncho aparentemente artesanal e um chapéu que enfatiza seu rosto andino. O cachorro não sai do lado dele.
Depois de alguns minutos, a flauta me mostra o caminho, já que o guia eu não enxergo mais. Durante todo o caminho, desde o início, eu me mantive no bloco intermediário ou no último bloco. Nesse momento, algo me deu fôlego para me juntar ao bloco da frente e ser um dos primeiros a ver o Lago Humantay se mostrando para nós.
Es-pe-ta-cu-lar! Fico congelado olhando o reflexo da montanha nevada na água esverdeada.
Congelado mesmo. O frio é cortante, e fica ainda pior com a minha decisão de lavar meu rosto com a água de degelo que se acumula no lago.
Ritual a la Pachamama
Mas o mais incrível ainda estava por vir. Me sento com todos em uma roda, usando as pedras como bancos. O guia se mostra mais do que um simples guia. Não sei como não percebi antes, as roupas e o comportamento davam as dicas.
Ele é um yatiri, uma espécie de xamã dos Andes. Se não é de verdade, não importa, no meu imaginário ele é e sempre será o xamã da trilha Salkantay.
Calmamente ele inicia o ritual a la Pachamama chamado challaco, em que fazemos oferendas a Mãe Terra. Eu tenho apenas uma barra de torrone e o junto às barras de cereais, folhas de coca e balas que o grupo tem agora nos bolsos.
Silêncio total. Entro em um transe de tranquilidade e o vento cortante já não faz mais efeito algum. O yatiri chama um por um e diz algumas palavras incompreensíveis enquanto com as duas mãos juntas toca nas nossas cabeças.
Nos dá 3 folhas de coca para levarmos juntos pela trilha Salkantay até Machu Picchu, onde iremos fazer três pedidos e lançá-los ao ar.
De volta ao acampamento
Já quase no escuro, começamos a descer a montanha até nosso acampamento. No meio do caminho eu ligo a lanterna de cabeça para poder enxergar a trilha, as pedras, os buracos.
“Não é uma corrida, não é uma corrida”. Os conselhos do guia soam como um mantra e já não me preocupo mais em acompanhar o ritmo deles. Montanha abaixo eu vejo outras lanternas se distanciando pouco a pouco.
Ao chegar no acampamento em Soraypampa, a 3.900 metros, sinto o cheiro do jantar. A equipe de apoio realmente caprichou. Se o vento estivesse soprando com direção ao Lago Humantay, com certeza a descida seria com a barriga roncando ainda mais.
Pães, sopa de legumes, arroz com frango e quinoa e como sobremesa uma deliciosa maçã caramelizada.
Não dá para imaginar como tudo isso sai de uma cozinha carregada no lombo das mulas, montada no meio do nada. Mais um chá de coca e um rápido bate papo entre gemidos de dor e bocejos prolongados.
21:25: entro nos meus aposentos e tento dormir para recuperar as forças. Os pés doem mais do que as pernas e menos do que a cabeça. Ainda estou me revirando dentro do saco de dormir quando vejo que já é meia noite.
Não penso em quase nada. Só penso se o chá de coca realmente faz efeito ou não, e como queria dividir esse dia pela trilha Salkantay com a Jú.
Para planejar o seu roteiro no Peru, leia outros posts aqui. E para saber onde ficar, veja as opções de onde ficar em Cusco. Lembre-se que é importantíssimo viajar ao Peru com seguro viagem. Aqui você encontra comparação de todos os seguros viagem e ganha 5% de desconto.
Que legal essa cerimônia com o xamã.
Muito legal a sua descrição, estou com viagem marcada para Maio e pude me imaginar lá rs, obrigada.
Oi Aline! Que legal que vc gostou. Obrigado pelo comentário e boa viagem!!
Oi Doulglas , obrigada pelo relato, adorei. Com qual agencia voce fez? Indica fechar la ou ja deixar fechado aqui do brasil? Obrigada!
Oi Cristiane, a empresa foi a Lima Tours e dá pra reservar tudo ainda no Brasil. Se você quiser economizar, vale a pena pesquisar lá na hora mesmo.