Atacama: Laguna Cejar, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche
O passeio da tarde foi para três lugares que estão próximos um do outro aqui no Atacama: Laguna Cejar, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche.
Na parte da manhã fomos nas Termas de Puritama para relaxar um pouco nas águas termais, então estávamos pronto para encarar mais uma vez o deserto.
Visitamos lugares com bastante água, as lagunas e as termas, por isso começo a desconfiar que esse deserto do Atacama não é tão seco assim.
Brincadeira gente. As lagunas e as termas não conseguem nem fazer ‘cosquinha’ na umidade do ar. Realmente o ar é muito seco e faz o Atacama merecer o título de deserto mais árido do planeta.
Então bora conhecer mais esses passeios imperdíveis do Atacama. Vem com a gente!
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O caminho de San Pedro à Laguna Cejar
Lá pelas 15h30 estávamos no nosso hotel, o Hostal Lackuntur, que fica perto da rua Caracoles, o centrinho de San Pedro de Atacama. Tudo pronto, ansiedade grande, aguardando nosso guia da Araya Atacama, para o nosso quarto passeio pelo deserto do Atacama.
Dessa vez nosso guia foi uma pessoa mais descolada. Não que o Oscar não fosse, mas o guia desse passeio era bem novo, quase adolescente rsrs. O Marcus, nascido em Santiago, arranhava pouco do português e assim como os outros guias da Araya Atacama, ele chegou todo animado para nos buscar.
Confesso que a princípio tive um pré-conceito. Ele não me passou confiança, não parecia conhecer muito sobre o Atacama. Ele parecia mais aqueles caras festeiros que estavam no Atacama para curtir a vida. Parecia só o motorista.
Mas no decorrer do caminho ele se mostrou um cara super profissional, cheio de informações detalhadas e interessantes, atencioso e cheio de ideais para as melhores fotos. Nada como dar uma chance e manter a mente aberta para conhecer as pessoas.
Percorremos 16 km pela Ruta 23 sentido sul, entramos em uma estrada de terra à direita e depois percorremos mais 11 km. A distância de San Pedro até Laguna Cejar é de uns 27 km, que dá uns 30 minutos de trajeto.
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Laguna Cejar
Finalmente chegamos na Laguna Cejar, que é um dos principais atrativos do Atacama. O lugar tem uma lagoa onde é possível flutuar na água, assim como nas Lagunas Escondidas, com o diferencial dos vulcões que deixam o cenário ainda mais bonito.
Lembra que contamos no outro post o motivo de não ser possível afundar nas Lagunas Escondidas? Então, na Laguna Cejar é o mesmo. A água possui uma quantidade muito grande de sal por litro, o que a faz ser muito mais densa que o corpo humano, por isso não dá para afundar.
Para entrar pagamos 15.000 pesos cada um. O guia Marcus foi pagar as entradas e enquanto isso procuramos uma sombra no estacionamento, pois o calor é enorme, de deserto mesmo.
E quando o Marcus voltou, aproveitou para, ali mesmo na sombra, contar um pouco sobre a Laguna Cejar. Se o seu guia tiver informações pra passar, peça pra fazer isso antes de ir pras lagunas, pois quase não existe sombra no lugar.
São três lagunas no mesmo local, Laguna Cejar, Laguna Piedras e Laguna Baltinache. Muitas pessoas acham que mergulham na Laguna Cejar, mas na verdade essa laguna está fechada faz muitos anos.
A Laguna Cejar já foi a principal para banho, mas hoje a quantidade de água é baixa. A laguna perdeu profundidade com o passar dos anos e o sal se cristalizou.
Então a comunidade indígena, que cuida do lugar, decidiu fechá-la para mergulho. Hoje só podemos vê-la de um mirante que foi construído ao lado.
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Por que tem tanto sal no deserto do Atacama?
Segundo o Marcus, existem duas teorias.
Uma delas diz que essa região já foi, em algum momento, coberto pelo mar. Essa teoria surgiu, pois foram encontrados fósseis de dinossauros marinhos em Calama, que fica a uns 100 km de San Pedro de Atacama.
Mas o Atacama tem muito mais sal do que é encontrada nos oceanos, então a outra teoria para tentar explicar isso, é a água que vem dos vulcões.
Na extensão da Cordilheira dos Andes existem em torno de 1.800 vulcões (só no deserto do Atacama são mais de 80), porque o Chile está sob o círculo de fogo do Pacífico, área que se localiza nos encontros de placas tectônicas. Nos vulcões encontram-se elementos químicos que formam minerais e sais e estes são levados pelos rios em suas correntes de água.
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Os rios do Atacama são de drenagem exorreica, ou seja, correm ‘para fora’, da Cordilheira dos Andes para o mar. O que acontece é que teoricamente os rios devem continuar até o mar, mas o Atacama tem barreiras naturais que impedem, como as cordilheiras do Sal, de Domeyco e da Costa. Então essa água se acumula na área mais baixa e os sais e minerais não se dispersam. Ou seja, forma-se lagunas sedimentares no deserto do Atacama, com grande concentração de sal, muito acima da concentração de sal do mar.
A Lenda do vulcão Lincancabur
Um dos motivos para visitar a Laguna Cejar é que lá está uma das paisagens mais impressionantes do Deserto do Atacama (são várias, por sinal).
Esse é o famoso vulcão Lincancabur e seu irmão menos famoso, Juriques.
Você consegue ver a diferença entre eles? Um tem a forma cônica perfeita e o outro parece que teve a ponta cortada, né? Existe uma ‘explicação’ para isso.
Pois bem, diz a lenda de Lincancabur que a princesa Kimal (um cerro considerado sagrado pelos atacamenhos, que é o maior cume da Cordilheira Domeyko), foi prometida pelo seu pai (o vulcão Laskar), para Lincancabur.
Mas Juriques, irmão de Lincancabur, também era apaixonado por Kimal e acabou se declarando para ela. Kimal ficou em dúvida e pediu a seu pai um tempo para pensar. Laskar decidiu contar o fato à Lincancabur e este, enfurecido, começou uma briga horrível com Juriques.
E aí você sabe como são as brigas entre irmãos, né. Ainda mais sendo eles vulcões.
Foram dias de muita fúria, com os vulcões em plena atividade, lançando lavas e cinzas por todo lado. E a comunidade do Atacama sofreu com as erupções que não paravam. As plantações foram devastadas e muitos morreram.
Até que um linda jovem indígena apareceu e se ofereceu para ir até a montanha com o objetivo de pedir piedade pelo povo. Para convencer os irmãos a pararem, ela pediu que todos os mortos fossem levados aos pés do vulcão.
E assim foi. Ela enfrentou o vento e a tempestade enquanto escalava a montanha. E os atacamenhos viram aquela moça se transformando durante a subida, e de repente, quando olharam seu rosto transformado, imediatamente se jogaram ao chão e pediram a sua proteção. Perceberam que estavam diante da deusa Pachamama.
Foi então que ela chamou Harmatan, o vento impetuoso do deserto, que cortou a cabeça de Juriques. Logo em seguida veio a tempestade que formou o lago aos pés de Lincancabur, que cobriu o corpo de todos os mortos.
Laskar então levou sua filha Kimal para longe, depois de ela dizer ao pai que estava arrependida e que sempre fora apaixonada por Lincancabur.
E até hoje os dois, Lincancabur e Kimal, se encontram depois do solstício de inverno (primeiros dias de agosto), quando o sol nasce atrás do Lincancabur e sua sombra toca sua amada Kimal.
Legal né? E essa lenda é tão importante para os atacamenhos que nessa época é comemorado o ano novo likan-antay. Kimal recebe cerimônias para garantir a chuva no deserto e também por representar a fertilidade feminina.
Essa é uma das muitas lendas que ouvimos por lá.
E você, gosta de ouvir sobre as lendas locais quando viaja?
Idioma Kunza, ou atacamenho
A sombra estava boa e a lenda foi super interessante, mas era hora de encarar o sol, então fomos andando por uma trilha até o mirante da Laguna Cejar.
No caminho o Marcus parou em frente a uma placa de madeira com informações em um idioma que não entendemos. Tá, tinha tradução, mas ficamos curiosos.
Então o Marcus nos explicou que estava escrito em kunza, um idioma dos antigos indígenas do Atacama, os Licán Antai. O idioma era falado pelos mais velhos, mas hoje em dia existem pouquíssimas pessoas que o falam.
Quando os espanhóis chegaram em San Pedro de Atacama, proibiram os nativos de falar outro idioma que não fosse o espanhol. Então, quando pegavam alguém falando kunza, cortavam a língua como punição.
E por isso, hoje o kunza é considerada uma língua morta. Os poucos que conhecem palavras escrita, não sabem se a pronuncia está correta. E essa placa é uma representação para que os visitantes conheçam essa parte da história.
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Mirante da Laguna Cejar
Andamos mais um pouco até o mirante da Laguna Cejar. A trilha é curta, mas o sol estava escaldante, então parece que você não vai chegar nunca até a laguna.
O mirante é um deck de madeira com uma pequena, bem pequena, área coberta. Rodeada por uma vegetação rasteira de cor dourada, bem a frente de nossos olhos estava a Laguna Cejar.
Na verdade o que se vê em destaque é uma área branca enorme, que é o sal cristalizado. E ao fundo enxergamos um pouco da água que restou.
Dá para imaginar que era uma lagoa muito bonita quando ainda era cheia de água, mas mesmo assim impressiona a quantidade de sal e como a paisagem se transformou.
Aproveitamos para fazer várias fotos, pois a paisagem é lindíssima e depois andamos até a Laguna Piedras.
Laguna Piedras
A Laguna Piedras, que fica praticamente ao lado da Laguna Cejar, é onde o mergulho é permitido. Quer dizer, é permitido entrar na água. Mergulhar você pode até tentar, mas não vai conseguir.
Para chegar até a lagoa caminhamos por outro caminho extenso e sem sombra. Logo no começo tem uma estrutura com duchas e lavabos, onde alguns indígenas estavam cuidando as filas e fazendo a limpeza.
Continuamos andando e já pudemos ver que tem algumas poucas cabanas ao redor da lagoa. Fomos direto para uma delas, a única que estava vazia, torcendo para ninguém chegar antes. Gente, enfatizo a busca por sombra porque o sol é muito forte!
A profundidade de Laguna Piedras é de 12 a 15 metros e assim como nas Lagunas Escondidas, a quantidade de sal na água é altíssima. O que quer dizer que você boia na água e pode tirar aquela foto clássica lendo uma revista na água como se estivesse em uma cadeira de praia.
Quando sento na cabana e olho para frente, vejo o imponente vulcão Lincancabur e seu irmão Juriques refletindo na Laguna Piedras. Que paisagem linda, até me desliguei por alguns segundos do que o guia Marcus estava falando.
E então de repente aparecem umas nuvens e começa a ventar. Lembrei da lenda, do Harmatan cortando a cabeça do Juriques.
Normalmente ficamos chateados com as nuvens, mas não dessa vez, pois ajudou a refrescar.
Até brinquei com o Marcus quando ele disse:
- Agora está mais tranquilo, pois tem essa nuvem passando.
- Sim, é São Pedro que está ajudando. Já que estamos na terra dele, né.
E lá fomos para a água. Na verdade aqui só os meninos entraram, o Douglas e o nosso amigo Luciano (do blog Tá na minha Rota).
Banho na Laguna Cejar
Oi Douglas falando. Deixa eu te contar essa parte, pois a Julia ficou na sombra… logo ela volta a contar o restante 😉
A borda da lagoa é de sal cristalizado, então precisa ter cuidado para entrar na água. Por isso fui de chinelo até bem perto.
A água é super fria, apesar do sol forte. Depois de acostumar com o fato de não afundar – é estranho, parece que o corpo fica rodando sem controle por causa da alta densidade da água – comecei a nadar para longe. Antes, um belo de um impulso na beirada, para de costas ir flutuando ao centro da lagoa.
O legal aqui é ficar flutuando enquanto observa as nuvens passarem, dá uma sensação de tranquilidade sem tamanho.
Depois eu e o Luciano fizemos um nado sincronizado. A água super salgada é o segredo desse esporte impossível de praticar.
Com o sol começando a baixar, o vento começou a ficar gelado e era hora de sair da água.
Uma coisa muito importante, o governo tinha fechado por um tempo a Laguna Cejar por conta do alto índice de arsênico presente na água. Isso fez com que a comunidade indígena, que administrava o local, perdesse muito dinheiro, sem turistas visitando. Então eles se comprometeram a instalar duchas com água limpa para que os visitantes pudessem se enxaguar, tirar o sal e os minerais do corpo, antes de ir embora.
Portanto, já sabe, não é bom ficar com os sais no corpo, não saia de lá sem se lavar. O banho na lagoa não é recomendado para mulheres grávidas.
Ojos del Salar
Depois do banho na Laguna Piedras, paramos no caminho para a Laguna Tebinquiche para conhecer os Ojos del Salar ou, em português, Olhos do Salar. A distância é bem curta e chegamos lá rapidinho.
A estrada de terra passa bem no meio de duas lagoas redondas que ficam lado a lado. Olhando de cima as lagoas parecem dois olhos, por isso o nome Ojos del Salar.
Aqui você não paga nada para visitar, fica a beira da estrada e é aberto.
Quem vê uma lagoa pequena assim, pensa que ela é rasa né. Não se sabe exatamente a profundidade, mas, uma vez alguns turistas brasileiros estacionaram ao lado dos um carro automático e esqueceram de puxar o ferio de mão e de colocar o câmbio no modo park (estacionado). E sem que ele percebessem, o carro foi andando devagar e caiu dentro de um dos Ojos del Salar.
Dizem que o carro ficou uns 2 anos submerso, quando a comunidade indígena resolveu tirar. O mergulhador que foi enganchar a corda para remover o carro, contou que ele estava a 7 metros de profundidade. O mergulhador percebeu que o buraco tem uma forma cônica perfeita, então foi feito um cálculo usando a profundidade em que estava o carro e o tamanho dele e estimaram que a profundidade dos Ojos del Salar é de 18 metros.
Andamos ao redor dos olhos e o Marcus tirou uma foto bem legal nossa, refletindo na água.
Aqui algumas poucos pessoas entram na água, mas achamos que não valia a pena, pois a água estava gelada, o dia estava quase acabando e o frio estava chegando. Nós preferimos seguir viagem para a Laguna Tebinquiche, e lá fomos nós estrada a fora a caminho do nosso próximo pôr do sol.
Laguna Tebinquiche
A caminho da Laguna Tebinquiche o nosso guia Marcus nos contou mais algumas curiosidades e mais sobre a cultura local.
Uma delas era sobre a transmutação Xamânica. Há muitos anos quando ainda viviam de maneira indígena, o habitantes locais preparavam uma mistura de uma vegetação chamada algaravia com um caracol do sul da Argentina, e assim faziam um pó alucinógeno.
Esse pó era inalado pelos xamânicos, dependendo da hierarquia que ocupavam, e assim se fazia a transmutação xamânica. Eles se transformavam em animais sagrados da região para buscar explicações para os problemas que enfrentavam em sua atualidade. E também utilizavam o pó para ter coragem para enfrentar outras tribos.
Depois dessa informação, em alguns minutinhos chegamos a Laguna Tebinquiche.
Nessa época do ano (visitamos final de março) a lagoa está praticamente seca e vimos tudo branquinho, como se fosse neve. Na verdade é uma camada de sal que se forma quando a água evapora. Em algumas épocas do ano a Laguna Tebinquiche chega a ter entre 50 cm a 1 metro de profundidade.
Aproveitamos o tempo que tínhamos, antes do inicio do pôr do sol, para andar ao redor da lagoa. O nome da lagoa pareceu bem complicado quando o guia falou, e mesmo perguntando repetidas vezes, não lembrávamos. E aí tentamos acertar o nome: o Douglas chutou Trebinquiche. Eu chutei Tebinquiche (e acertei). O Luciano disse In My Kitchen (acho que ele tava com fome rsrs) e a Grasi sem mais opções, disse Hello Kitty. Paramos por aqui com a brincadeira… hahaha
Depois de explorar o lugar e tirar muitas fotos, andamos até o final da trilha e voltamos para onde o carro estava estacionado. Lá estava o guia Marcus com uma mesa colorida e um coquetel preparado, só nos esperando.
Coquetel ao pôr do sol em Tebinquiche
Quando você acha que já viu as paisagens mais belas do deserto do Atacama, você se surpreende com um pôr do sol mais lindo e cheio de cores na Laguna Tebinquiche. E isso acompanhado de um coquetel para brindar mais um dia sensacional no deserto.
Conforme o sol se despedia na Laguna Tebinquiche e a noite chegava, vinha também o frio do deserto. Assim que o sol se pôs, voltamos para San Pedro de Atacama extasiados com as paisagens e experiências incríveis que vivenciamos no deserto.
Importante saber
Entrada Laguna Cejar: 15.000 pesos/por pessoa.
Entrada Laguna Tebinquiche: 2.000 pesos/por pessoa. 1.000 pesos/por pessoa para crianças e terceira idade.
Como chegar: Contrate uma agência, nós contratamos a Araya Atacama.
Tempo aproximado de passeio: 4 horas.
Melhor horário para visitar: de tarde, depois das 16h.
Dicas: Lembre de usar roupas e tênis confortáveis para caminhada. Vá com roupa de banho e leve chinelos. Não esqueça do protetor solar, hidratante, protetor labial, óculos de sol, boné/chapéu e muuuita água. E leve casaco quente e um corta vento para o final do dia.
Reserve com antecedência: o seu transfer ou alugue um carro, faça seu seguro viagem (pelo link tem 5% de desconto) e muito importante reserve a sua hospedagem. Lembre que o Atacama é um destino muito visitado, então programe-se.
E aí, curtiu esse passeio cheio de curiosidades, lendas e paisagens?
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Até a próxima!
Bjs,
Julia